Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 70 (2001: 2)


 

Número dedicado a J.S.Bach da revista Intercâmbio
Brasil 2000
Colóquio/Kolloquium

J.S.BACH-H.VILLA-LOBOS
Interpretações e Perspectivas do Barroco
Deutungen und Perspektiven des Barock

Direção científica/Wissenschaftliche Leitung: Dr. A. A. Bispo
Organização/Organisation: Dr. H. Hülskath


31. Mai - 2. Juni 2000

Akademie Brasil-Europa
ISMPS/IBEM

em cooperação com/in Zusammenarbeit mit:

Musikwissenschaftliches Institut der Universität zu Köln

 



75 Anos da Sociedade Bach de São Paulo
70 anos da Pro Arte Brasil
50 anos do número dedicado a J.S.Bach da Revista Intercâmbio

 

HEITOR VILLA-LOBOS E A HISTÓRIA DA RECEPÇÃO DE BACH

-Crônica de trabalhos realizados no âmbito do Leichlinger Musikforum por ocasião do falecimento de José Cândido de Andrade Muricy-

Antonio Alexandre Bispo

 

(Excertos)

Um dos maiores estudiosos e intérpretes da obra de Heitor Villa-Lobos, José Cândido de Andrade Muricy (1895-1984), foi, por ocasião de seu falecimento, considerado em ato especial no âmbito do Leichlinger Musikforum pela representação da Sociedade Brasileira de Musicologia na Europa, então em fase preparatória para constituir-se oficialmente como I.S.M.P.S. e.V.. Na ocasião, apresentou-se o artigo dedicado à memória de J.C. de Andrade Muricy de autoria de Antonio Garcia de Miranda Netto, publicado no Boletim N° 2 da Sociedade Brasileira de Musicologia.1

Nesse estudo, o seu autor salienta que Cândido Muricy foi amigo e inspirador de Villa-Lobos. Villa-Lobos "admirava-lhe o refinado senso crítico e o profundo saber. Quando o autor das 'Bachianas' teve a idéia de fundar a Academia Brasileira de Música [...] um dos primeiros nomes que lhe ocorreram foi o de Andrade Muricy."

Como questões relacionadas com a "Rezeptionsgeschichte" estavam sendo discutidas desde a publicação da Collectanea Musicae Sacrae Brasiliensis (Roma, 1981), com os seus subsídios aos trabalhos do I° Simpósio Internacional "Música Sacra e Cultura Brasileira", levado efeito em São Paulo, em 1981, resolveu-se dar particularmente relevância à história do redescobrimento de Bach no século XX, um tema de especial significado para Cândido Muricy.

O livro "Caminho de Música", que reúne trabalhos de Cândido Muricy dos anos 30, abre com ensaios a respeito da "revivescência de Bach". Para ele não haveria exemplo, na história das artes, de uma revivescência que se aproximasse da que estava sendo observada em torno de J.S.Bach. Até mesmo Beethoven teria sido passado para um segundo plano. Os motivos dessa "volta a Bach" seriam numerosos, alguns necessários e fundamentais. Um deles seria de ordem psicológica: o esforço do homem moderno em concentrar-se, meditar, mergulhar na vida interior. O homem do seu tempo precisaria da música como de uma atividade em que ele encontrasse o mesmo ritmo, a mesma "velocidade" da época atual, mas transpostos a um plano de serenidade e de tranquilidade. Bach satisfaria, segundo êle, plenamente esses anseios. Os movimentos vivos e obstinados, a grande correnteza sonora significariam um repouso em comparação com a dramaticidade de Beethoven e dos românticos.

Cândido Muricy parte nas suas reflexões a respeito de Bach de "A pequena crônica de Ana Madalena Bach", na tradução francesa de Margarida e Edmundo Buchet. Para ele, o que Spitta, Pirro, Albert Schweitzer e outros estudiosos de Bach puderam recolher sobre o Cantor e sua família, tudo o que a monumental Bach-Gesellschaft teria podida esclarecer estaria modelarmente incorporado naquela obra, numa trama de aparência desprevenida e simplória, de naturalidade artística inquestionável.2

Em outro ensaio, Cândido Muricy ressalta a importância de Bach na educação musical dentro da concepção orfeônica liderada por H. Villa-Lobos no Rio de Janeiro. Para êle, o brasileiro que teria cantado na escola música de Bach a quatro vozes não quereria mais limitar-se à exclusiva predileção pelo bel-canto, pelas árias de ópera consideradas pelos seus pais e avós como única forma superior da arte musical, nem julgaria pedante o amor a Mozart ou a Wagner. Seria mais rico, "leria dentro", "veria claramente", "compreenderia" e seria mais inteligente no referente ao fundamental sentimento estético. Assim, o Curso de professores de Música e Canto Orfeônico do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal não deveria ser visto como um contraente aos do Instituto Nacional de Música. Este se destinaria a criar instrumentistas, virtuosi, e professores de música, enquanto aquele atenderia exclusivamente a necessidades educacionais, a preparar professores para educar através da música. Assim, a criança a quem se determinaria que estudasse uma invenção de J.S. Bach não mais tomaria esse trabalho como meramente escolar e técnico. Ele já teria cantado canções similares na escola.3

(...)

 

1 Antonio Garcia de Miranda Netto, "José Cândido de Andrade Muricy (1895-1984), Boletim 2 da Sociedade Brasileira de Musicologia, Colonia 1984, 33-35

2 Cândido Muricy, Caminho de Música. Curitiba: Guaíra, s/d., 11-17.

3 Ibidem, 240-241.

 

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