Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 63 (2000: 1)


 

Congresso Internacional Brasil-Europa 500 Anos
Internationaler Kongreß Brasil-Europa 500 Jahre

MÚSICA E VISÕES
MUSIK UND VISIONEN

Colonia, 3 a 7 de setembro de 1999
Köln, 3. bis 7. September 1999

Sob o patrocínio da Embaixada da República Federativa do Brasil
Unter der Schirmherrschaft der Botschaft der Föderativen Republik Brasilien

Akademie Brasil-Europa
ISMPS/IBEM

Pres. Dr. A. A. Bispo- Dir. Dr. H. Hülskath

em cooperação com/in Zusammenarbeit mit:

Deutsche Welle
Musikwissenschaftliches Institut der Universität zu Köln
Institut für hymnologische und musikethnologische Studien

 

OS ÍNDIOS E NÓS: RETRATOS RECÍPROCOS

Profa. Dra. Kilza Setti
Sociedade Brasileira de Antropologia da Música, I.B.E.M

 

Ein Überblick über 500 Jahre Geschichte Brasiliens verweist auf das Erbe von Eroberungen der Seefahrer, ihre Erfolge und möglichen Irrungen. Aus den Problemen der Verschiedenheit von Umwelt und Kultur, aus den vielfältigen Interessen der portugiesischen Krone, aus den Konflikten zwischen Idealen der kulturellen Unterwerfung und Konversion der Indianer sind die mannigfachen, bis heute nicht gelösten Probleme erwachsen, die in der Gegenwart die Minderheiten Brasiliens betreffen.
Die offizielle Geschichte Amerikas ist über die Jahrhunderte ein europäischer Diskurs gewesen, in dem die Meinung der Indianer über diese Art der Darstellung ignoriert wurde. Wenig waren die Stimmen, die sich zur Verteidigung der Indianer erhoben. Den Indianern blieb nur das Schweigen. Dem indianischen Universum wurde lange Zeit jegliche Möglichkeit einer Spiritualität oder Mystik abgesprochen. Momente des Zusammenlebens und Forschungen beweisen jedoch, daß, anders als vermutet, die Indianer in Harmonie mit der Umwelt leben, eigene Auffassungen über den Kosmos besitzen, virtuos mit Allegorien und Metaphern umgehen und jede Gruppe reichhaltige Repertoires zeichenhafter Figurationen hat.
Diese inneren Bilder und Ideen wußten die Missionare bei ihrer Bekehrungsarbeit zu nutzen. Dennoch wurden die rituellen Praktiken in ihrem tiefen Sinn nicht verstanden und gewürdigt. Es wurde z.B. nicht ganz erkannt, daß die "mbarakás", mit denen die sakralen Gesänge begleitet werden, einen tiefen übernatürlichen Sinn besitzen. Erst heute sind wir in der Lage, die Feinheit der metaphorischen Ausdrucksweisen der Guarani-Mbyá zu erkennen und den Reichtum ihres in "schönen Worten" verhüllten religiösen Denkens als Aussdruck eines esoterischen Wissens zu würdigen. Bis heute bleiben die Gebete und Nachtgesänge des Pajés lebendig, die die Vollkommenheit suchen und unsere Art und Weise des Lebens als krankhaft ansehen.
Wenn es eine materialistische Gesellschaft gibt, dann ist es die unsere, nicht die der Indianer. Wie können wir aber die Sichtweise der Indianer erkennen? Sie kann nur zwischen den Zeilen der Darstellungen der Reisenden und Chronisten herausgelesen werden und aus den Forschungsberichten von Wissenschaftlern. Heute jedoch eröffnen sich andere Möglichkeiten, die Indianer selbst ihre Sichtweise darstellen zu lassen. Diesem Anliegen dienten mehrere Initiativen und Projekte, die in den letzten Jahren durchgeführt wurden.
Eine rezente Gelegenheit, das Bild der Indianer über die Zivilisierten zu erfassen, ergab sich beim längeren Aufenthalt bei den Timbira im Landesinneren von Maranhão. Dabei konnte festgestellt werden, daß die Timbira eine außerordentliche Rezeptionsfähigkeit beim Hören fremden Musikrepertoires besitzen, ein besonderes Interesse für Musik von Stammesgesellschaften aus Afrika, Asien und Ozeanien sowie anderen brasilianischen Indianer-Gruppen zeigen, eine überraschende Fähigkeit zur Konzentration beim Hören von Vorlesungen und ein lebendiges Interesse für musiktheoretische Fragestellungen aufweisen, mit Aufmerksamkeit verschiedene Stile der abendländischen Musik, zeitgenössischer Kompositionen sowie der Popularmusik und des Jazz hören, sich eigene Meinungen zur eigenen und fremden Musik bilden, in der Lage sind, Gehörtes visuell darzustellen und dabei eine eigene Zeichensprache zu entwickeln, die vielfach auf die eigene Umwelt verweist, gleichsam ethnozentrisch die Werte der eigenen Kultur herauszustellen. Aus diesen Seminarien gingen die Indianer heraus mit einem gestärkten Bewußtsein über den Wert und die Einheit ihrer Kultur und über die Notwendigkeit, diese zu erhalten und zu fördern und gegebenfalls zu verteidigen gegen die minderwertigen Produkte, die die Medien verbreiten.
Aus all diesen Arbeiten, die sich noch in einem früheren Stadium befinden, ergibt sich nur eine Gewissheit: bei diesem Kulturaustausch sind wir diejenigen, die mehr empfangen als geben. Wir sind diejenigen, die mehr zu lernen als zu vermitteln haben.

 

Retratos do passado

Uma avaliação dos 500 anos de Brasil, remete à herança das conquistas marítimas, com seus êxitos e possíveis equívocos. Questões de diversidade ambiental e cultural, interesses múltiplos centrados em determinações da Coroa Portuguesa, conflitos resultantes dos ideais de conquista e dominação cultural, articulações engendradas para a conversão dos indígenas: desse conjunto, resultou enfim um Brasil com infinitos problemas para suas minorias, até hoje não solucionados.

O coro maciço do discurso europeu tornou-se, por muitos séculos, a história oficial da América, ignoradas as impressões que desse discurso, pudessem ter os indígenas. Nesse coro, poucas vozes solistas se ergueram em sua defesa, a exemplo de Montesinos e de Las Casas, em territórios de ocupação hispânica. Engrossada a literatura sobre as Américas, coube aos índios apenas o silêncio.

No Brasil, até o século XIX, os indígenas foram pintados com as tintas de um sectarismo inflexível, que os viu como objetos para uso de mercado, ou como semoventes imprestáveis. Excluiu-se de seu universo a possibilidade de qualquer sinal de espiritualidade e misticismo. Entretanto, exercícios de convívio e pesquisas posteriores provaram que, ao contrário do que se supunha, nossos índios vivem em harmonia com o ambiente, formulam suas próprias idéias sobre o cosmo, são hábeis em construir alegorias, metáforas, e cada grupo, independentemente de tronco lingüístico ou nação, apresenta repertórios riquíssimos e requintados dessas construções figuradas. Em contrapartida ao patrimônio que compõe o imaginário indígena, os processos alegóricos foram sabiamente trabalhados e utilizados por jesuítas, como, por exemplo, Anchieta em seus autos, e, como lembra Alfredo Bosi, talvez por isso mesmo, julgados eficazes na conversão e "como ferramenta de aculturação"(Bosi, 1992: 75 e 81).

As práticas rituais indígenas não foram entendidas e consideradas em seus significados mais profundos. Não foi percebido, por exemplo, o valor extra-natural dos mbarakás - instrumentos que acompanhavam e acompanham ainda os cantos sagrados - que, conforme Bosi, são verdadeiras representações de "cabeças-cabaças onde moram e de onde falam os ancestrais"(Bosi:92:74). Quase quinhentos anos se passaram até que pudéssemos apreender a delicadeza das expressões metafóricas dos Guarani-Mbyá, a riqueza de seu pensamento religioso manifesto pelas "Belas Palavras"(ñe ‘ eng porã), o que Clastres chamou o "lugar de um saber esotérico que descreve sucessivamente numa linguagem de encantamento, a gênese dos deuses, do mundo e dos homens" (Clastres,P. 1990:12 e 15). Vemos que a prática das preces e cantos noturnos de pajelança dos Mbyá continua viva hoje, na busca da perfeição (aguidjé) e nos faz compreender o modo com que pensam, diagnosticam e racionalizam o teko-axy - que conforme M.Ghizzi Godoy, seria "literalmente, ‘o modo de ser doentio‘ (…) ‘o sofrimento que invade a atualidade‘"(Ghizzi Godoy, 1995:21), uma oposição, portanto, ao teko-porã, o modo ideal de ser Guarani.

Se sociedade materialista existe, portanto, há de ser a nossa, ocidental contemporânea, e não a dos indígenas, tal como foram retratados desde o Descobrimento.

Mas, onde a reciprocidade? o olhar dos índios sobre nós há que ser garimpado nas entrelinhas dos relatos de viajantes, cronistas, e com mais confiança, em relatórios de cientistas que por aqui estiveram. A condição de oralidade das culturas indígenas brasileiras não as pôde prover de outro tipo de documentação.

Retratos do presente

Nas primeiras décadas deste século, o olhar branco para os nossos índios liberta-se progressiva e parcialmente dos enganos e omissões do passado. A comunidade científica procura reangular sua ótica, movida sobretudo pelo desejo de interpretar os sofisticados sistemas simbólicos, míticos, ou de parentesco. Enfim decifrar a cosmogonia indígena, a exuberância e transcendência do que se chamou "pensamento selvagem". Afinal, todos sabemos que os indígenas têm uma compreensão poética do cosmo. O complexo de lendas, a criação de mitos e o conjunto de ritos que formalizam esses mitos, a busca de justificativas da origem do mundo e a crença nos cataclismas que o ameaçam, atestam essa compreensão poética e nada materialista dos indígenas.

Entretanto, o cidadão comum brasileiro vê ainda nossos índios Guarani, Terena, Kaingang e outros, ditos "ïntegrados" como estorvos, incapazes, tutelados, aos quais lhes são acrescentados estigmas de "aculturados", "silvícolas de jeans", o que os torna mais vulneráveis à perda de seus territórios - conseqüentemente - de seus patrimônios culturais.

Como herança da colonização, instalou-se uma política integracionista, ainda hoje infiltrada na mentalidade brasileira. Tudo se traduz numa única palavra: preconceito.

As últimas décadas dos 70 recolocaram em pauta discussões muito antigas sobre demarcação de territórios, integração, ptojetos de educação indígena, etc. antes circunscritas no âmbito do Estado - antigo SPI, hoje, FUNAI. Com a intervenção da Igrejas, de políticos, das numerosas ONGS do Brasil e exterior, algumas conquistas adquiridas com a Constituição de 88, como programas de escola bilingüe, de recuperação dos patrimônios culturais, e outros, os índios passaram a personagens ativos no cenário brasileiro, com episódios de repercussão até mesmo no exterior - o que não lhes garantiu, porém, condições mais justas de sobrevivência, direito à terra e direito de serem ouvidos.

A visão que vem do convívio

Chegado o momento de um olhar contemporâneo recíproco, passo a intervir nestas reflexões a partir de minha experiência pessoal.

Em 1975, uma pesquisa que realizei em escola de classe média-alta (S.Paulo), com alunos entre nove a doze anos, revelou-me resultado preocupante. Ao responderem a questionários propostos, as crianças se referiam aos nossos índios como seres lendários, de um Brasil remoto, distante no tempo (algo como há mil anos passados). Ignorados, portanto os grupos indígenas, e julgados como culturas mortas, desaparecidas já no período pré-cabralino. A visão dessas crianças sobre o índio brasileiro provavelmente refletia a visão da sociedade brasileira dos anos setenta.

Em 1985 iniciei contato com aldeias Mbyá-Guarani de São Paulo, procurando compreender seu sistema musical religioso. Os sub-grupos Guarani testemunharam os primeiros contatos, no século XVI. Experimentaram conquista e catequese, mas, ao contrário de outros grupos Tupi da costa há muito desaparecidos, resistiram e sobreviveram culturalmente ao massacre contracultural. Apesar de viverem hoje próximos a grandes metrópoles, seguem ainda suas práticas culturais ancestrais, como se a cada noite de rezas e danças, recuassem um ou dois séculos no tempo.

Reservados, prudentes e corteses, raramente se lhes consegue captar uma opinião ou impressão sobre os juruá (nós, os brancos). Entretanto, mostram-se curiosos quanto aos relatos de meu trabalho junto aos índios Krahô do Tocantins, e até discretamente enciumados por meu convívio com os grupos Jê.

Uma segunda experiência, junto a um grupo Timbira vem permitindo sondagem mais franca, e possíveis visões recíprocas dos índios e nós. Começa a ser abandonada, portanto a visão unilateral que sempre nos colocou como os únicos detentores dos direitos de análise e opinião.

Em 1994, iniciei estudos sobre a música ritual de um grupo Timbira, com os índios Krahô, de língua Jê. Após a primeira fase do estudo, desenvolvido na aldeia Rio Vermelho, Tocantins, quando se celebrou o rito Përekahëk de final de luto, meu trabalho teve desdobramentos posteriores. Da ação de apenas etnomusicólogo na aldeia, passei à ação em sala de aula. Explico : Integrando o Projeto Educação para professores Timbira das aldeias do Maranhão, Pará e Tocantins (parceria entre o Centro de Trabalho Indigenista (CTI / São Paulo). Universidade de São Paulo (USP) e Rainforest Foundation Norway), passei a ministrar nesse projeto, seminários de música, cada vez mais bem aceitos pelos índios.

Nesses seminários, são trabalhados aspectos da cultura musical Timbira, com por exemplo, oralidade e representação gráfica dos sons, orientação e debates quanto aos procedimentos de recolha dos repertórios rituais, critérios para classificação êmica das cantigas (pelos professores índios) com vistas à formação de um arquivo musical para uso exclusivo das aldeias.

Os objetivos deste trabalho estão em consonância com as propostas do CTI, que embora criado por antropólogos da USP, desenvolve projetos com perspectivas antropológicas sim, mas voltados também para políticas indigenistas. Nos dias atuais parece indispensável que trabalhos científicos não percam de vista questões práticas e urgentes, que demandam soluções imediatas.

Serão aqui exibidos alguns fragmentos de vídeo, que mostram o encontro de dois grupos Timbira : Krahô e Parakatejê-Gavião, que não se conheciam. O processo de identificação cultural e sintonia que esse encontro possibilitou, e a visão recíproca dos grupos, visíveis no desenrolar do filme, parecem consolidar uma aliança latente, talvez milenar, que se concretiza na ação contemporânea do CTI, em estimular tais situações de contato inter-aldeias, reciprocidade e fortalecimento da unidade cultural Timbira, que engloba os grupos Apinayé, Krahô, Rãkokamekrá-Canela, Apanyekrá-Canela, Gavião-Pykobyê, Krikati, Parakatejê-Gavião.

A experiência Timbira, de pelo menos dois séculos de contacto, com perdas territoriais e culturais irreversíveis, está a exigir, na entrada do milênio, políticas renovadoras e polivalentes. O Projeto Educação do CTI visa, de um lado, preparar os Timbira para que preservem seus patrimônios culturais e ambientais, e de outro, fornecer instrumental técnico para gerirem e administrarem novos possíveis confrontos com a sociedade nacional, com mais eficientes armas, tais como a do saber e a da informação.

Retratos recíprocos

O convívio mais intenso que tive no final de julho passado, com os Timbira no Pymwy Hympeyxá - um sítio isolado no sertão do Maranhão, possibilitou captar visões e conceitos que esses índios vêm formulando a respeito de outras culturas indígenas e de nós, brancos (cupein). Dos meus relatos sobre a música e extrema religiosidade dos Guarani (que sabem ser meus amigos há anos), mostram curiosidade, certa perplexidade quase crítica. Os Timbira vivem num mundo de festas rituais (brincadeiras, como dizem), e seus conseqüentes repertórios musicais, o que os limita para uma compreensão muito clara sobre o hermético pensamento religioso dos subgrupos Guarani.
Dos trabalhos propostos durante os seminários, foi possível recolher material de expressivo valor etnográfico (do qual mostrarei alguns exemplos no projetor), e permitiu algumas observações. A observação dos trabalhos Timbira revelou:
1 - extraordinária receptividade para audição de repertórios desconhecidos.
2 - especial interesse por músicas de culturas tribais (povos da África, Ásia, Oceania) e de outros indígenas brasileiros.
3 - surpreendente capacidade de concentração nas sessões de aulas expositivas, e vivo interesse no conhecimento de teoria musical ocidental, práticas rítmicas e vocais propostas.
4 - atentos igualmente na audição de música ocidental de concerto (incluídos compositores contemporâneos), jazz, MPB e outros gêneros.
5 - emitiram seus conceitos sobre as músicas do mundo e sua própria música.
6 - quando solicitados a praticar grafias pictóricas a partir de escutas musicais, a grande maioria expressou-se com desenhos figurativos - quase sempre relacionados ao ambiente das matas, das aldeias e aos seus itens culturais (artefatos de uso doméstico, instrumentos musicais, e outros)
7 - uma minoria elaborou desenhos relacionados à sua visão da sociedade branca, ou a itens de nossa cultura. Aliás, geralmente exprimem admiração pelos recursos da nossa tecnologia, dos quais muitas vezes se utilizam (gravadores, câmaras fotográficas, baterias) manifestam reconhecimento pela "sabedoria do branco", mas permanecem em compreensível etnocentrismo, que os faz valorizar sempre mais e mais sua própria cultura.
8 - raras representações pictóricas dos sons resultaram em grafias e desenhos abstratos.
9 - as descrições livres e depoimentos sobre as impressões das músicas ouvidas, contém, em geral, ingrediente melancólico e estão curiosamente readaptadas ao meio em que vivem, (embora muitos deles mantenham contatos intermitentes com centros urbanos).
10 - as fichas por eles preenchidas como estágio preliminar para organização de arquivo musical, revelam os mecanismos mentais dos Timbira, para identificação e classificação de cada cantiga, portanto de inestimável valor para a etnomusicologia.
11 - os Timbira sairam fortalecidos desses seminários, ampliaram a consciência de sua unidade cultural (o que Azanha chama "a Forma Timbira"), querem preservar os repertórios tradicionais e descartam a possibilidade de serem criadas novas músicas rituais.
12 - após relatos dos trabalhos de recolha e classificação, por professores representantes de quatro grupos Timbira, foi unânime o apoio ao Projeto Arquivo, com a proposta de se estendê-lo a todas as aldeias. Os monitores índios solicitaram-me que tentasse obter recursos, pois como conseqüência dos trabalhos de arquivo, estão interessados também na produção de um CD de suas músicas. Aproveito pois a oportunidade para publicamente deixar aqui registrado neste Congresso, um pedido de auxílio para a confecção desse futuro CD.
13 - julgam interessante a hipótese de virem a criar suas próprias grafias para os sons Timbira, mas reconhecem as inúmeras dificuldades a enfrentar.
14 - tendem a considerar como excludentes de sua unidade cultural, outros grupos de língua Jê, como por exemplo, os Caiapó ou os Xavante.

Nestes Seminários, a amostragem de músicas ocidentais e de outros repertórios não Timbira foi oferecida aos professores (talvez futuros líderes de suas aldeias), não como elemento de formação, mas como informação sobre as músicas do mundo, ampliação de conhecimentos e defesa contra o entulho musical que a mídia eletrônica impõe como única opção no restrito mercado das cidadezinhas do sertão do Brasil Central, mais próximas das aldeias.

Estas notas não têm caráter definitivo, pois, apesar de se estar obtendo certa periodicidade com os seminários no Pymxwy Hympeyxá, a experiência é muito recente e não permite conclusões. Apenas uma idéia surge com clareza:
Nesses intercâmbios culturais (ainda em busca de delinear contornos para retratos recíprocos), mais recebemos do que temos a oferecer, mais aprendemos do que temos a ensinar.

É preciso que deixemos de utilizar nossos índios unicamente como laboratório de estudos, e que nos coloquemosà disposição, para que de agora em diante, sejamos nós também seus objetos de estudos. Somente esta conduta dará lugar a uma verdadeira reciprocidade.

 

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Texto sem notas, bibliografia, exemplos musicais e ilustrações.
Artigos completos nos Anais do Congresso "Brasil-Europa 500 Anos: Música e Visões".

Text ohne Anmerkungen, Bibliographie, Notenbeispiele und Illustrationen.
Vollständige Beiträge im Kongressbericht "Brasil-Europa 500 Jahre: Musik und Visionen".

 

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