Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 15 (1992: 1)


 

Hans von Hattorf Auf Bergeshoeh1822-1992: 170 anos da Independência do Brasil: Música nas relações culturais - Mundo de língua alemã/Mundo de língua portuguesa
Materiais: Fontes gerais pouco consideradas

Obras de militares, comerciantes e aventureiros

AUF BERGESHÖH' UND MEERESWOGEN:
ERLEBNISSE EINES EHEMALIGEN PREUSSISCHEN OFFIZIERS IN EUROPA, IM ORIENT, IN AFRIKA UND AMERIKA

(NOS ALTOS DAS MONTANHAS E NAS ONDAS DO MAR: EXPERIÊNCIAS DE UM EX-OFICIAL PRUSSIANO NA EUROPA, NO ORIENTE, NA ÁFRICA E NA AMÉRICA")

HANS VON HATTORF
Bielefeld, 1895

 

(Excertos)

Hans von HattorfAo iniciar a guerra franco-prussiana, Hans von Hattorf, oficial do 15° Regimento de Infantaria, passou a fazer parte do Batalhão Bielefeld, que deveria defender a a costa do mar do Norte. Hans von Hattorf teve o início de sua carreira marcada por uma tragédia marítima, ocorrida logo após ter passado uma noite agradável com outros oficiais, no "Hotel Glocke" de Cuxhaven, ao som de um "virtuose de órgão que executou a antiga melodia do "Capitão com o bigode". (op.cit. 5)

Hans von Hattorf participou da guerra entre Montenegro, Sérbia, Bulgária, Rússia e a Turquia e foi durante vários anos funcionário de estrada de ferro em Constantinopla. Em 1882 vivenciou ele a Festa da Reconciliação Persa, deixando um valioso relato a respeito das tradições dos Derwische. (op.cit. 113-121) Hans von Hattorf visitou a colonia inglesa de Serra Leone, a região do Niger e do Congo.

O autor procurou nas suas memórias evitar descrições detalhadas, concentrando-se nas experiências que teve com pessoas: "Quem já fez longas viagens e sentiu a amplidão do espaço, sabe como todo o homem é indispensável, apesar de sua insignificância. Mesmo que o homem seja uma coisinha mínima - ele é porém a coroa da Criação." (op.cit., Vorrede)

Esse "humanismo" do autor deu origem a uma obra relativamente superficial. Enquanto as suas memórias relativas à costa ocidental da África, sobretudo ao Congo, são de interesse histórico-musical, as notícias relativas ao Rio Grande do Sul são mais curiosas do que significativas. Vindo do Uruguai, o autor, que havia louvado a musicalidade dos gauchos argentinos e as canções improvisadas ao som da guitarra, (op.cit.176) vivenciou a libertação dos escravos na fronteira do Rio Grande do Sul:

"Eu cheguei agora à fronteira brasileira, onde a língua espanhola muda para o brasileiro, na verdade o português. Passei sem incômodos o posto da alfândega e cheguei na mesma noite na cidadezinha mais ao sul do Brasil, S. Victoria, de má fama pelos seus ladrões de cavalos. Aquí, procurei um alemão que me tinha sido recomendado em S. Theresa; passei a noite na sua casa. De repente soaram tiros e música selvagem e aos poucos originou-se um terrível escândalo na localidade: tinha chegado nesse dia a notícia oficial que a escravidão tinha sido abolida no Brasil. Os negros estavam tão agitados que parecia ser inconveniente para um europeu sair à rua. Já em tempos normais não se deve sair depois das 6 horas da tarde à rua, em S. Victoria, pois a polícia a partir dessa hora já não oferece mais garantia. A maior confusão reina em algumas casas de jogo, quase que só frequentadas por ladrões de cavalos que gastam aquí o dinheiro ganho da venda de cavalos roubados na Banda Oriental del Uruguay.[...] Nessa noite, porém, S. Victoria era duplamente perigosa. Os negros entraram com música nas igrejas e dançavam lá dentro as suas danças nacionais, atirando com os seus revólveres dentro dos templos. [...] A alegria dos libertos não tinha limites e passaram muitos dias até que arrefeceu o barulho nas ruas [...]." (op.cit. 176)

 "Die Neger liefen mit Musik in die Kirchen und tanzten dort Nationaltänze, ihre Pistolen dabei im Gotteshause abknallend. Weniger gefährlich war das Benehmen der schwarzen Schönen, ihre Freude über die Freilassung äußerte sich in harmloserer Art. An diesem Tage war das Corsett, diese Zwangsjacke für das weibliche Geschlecht, in St. Victoria ein gesuchter Artikel."

von Hattorf, op.cit. 176

A estadia de von Hattorf no Rio Grande do Sul ilustra o grau de improvisação com que um estrangeiro procurando ocupação aceitava todo o tipo de propostas, atuando como médico, organizador de espetáculos, professor (também de canto) e pastor:

"Ao continuar a minha viagem, visitei a grande estância do capitão Milocca, que estava situada a caminho. Aquí passei a noite e oferecí os meus serviços como médico, não encontrei porém interesse. Milocca sugeriu que ficasse com ele, para ensinar as suas crianças. Eu, como Dr. med., neguei e partí. Prosseguindo o meu caminho, cheguei ao rancho de uma mulata e lá também coloquei-me à disposição. A velha senhora não me deixou em paz; eu precisei descer do cavalo e aceitar a sua Bombilla. Durante a conversa, chegou uma linda mulatinha jovem com uma gaita de boca e a velha me convidou a dançar com ela. O que é que podia fazer? Precisei dançar com a velha e com a jovem. Por fim, a velha indagou-me, diretamente, quem seria a mais bonita, ela ou a filhinha? 'Ambas seriam belas', respondí. 'Então fique aqui, inglês, nós não temos ninguém para dirigir o nosso comércio!' Sem ter sequer vontade de discutir a respeito desse convite mais do que gentil, logo partí dalí, desejando às sereias pretas mais sorte com outros homens. Depois de 2 meses e meio cheguei finalmente ao Rio Grande do Sul. Eu tinha cogitado em alí ficar, não pude porém encontrar ocupação. Por isso seguí a Pelotas, situada a um dia de caminho; aquí também tive pouca sorte. Como estava próximo das colonias alemãs mais ao Sul do Brasil, especulei em aproveitar dos meus conhecimentos filológicos, ou seja, tornar-me professor em alguma colonia. Cerca de uma hora fora da localidade encontra-se um albergue, 'Tres vendas', onde descansa grande parte dos Colonos de Sta. Helena, Sta. Antonia e St. Clara, quando trazem os seus produtos a Pelotas. Lá fui e encontrei emprego. O vendeiro, um dinamarquês, tinha adquirido de um engenheiro há pouco assassinado uma grande tenda com um belo Panorama e convidou-me a fazer com ele uma tournée através de todas as colonias, dando apresentações de Panorama. Eu aceitei. Nessa viagem, nós ganhamos muito dinheiro. Como o Sr. O. porém vivia muito bem, logo o público recuperou o dinheiro. - Com o tempo, porém, cansei-me desse ir-e-vir e, quando um bom dia foi-me oferecido um posto de professor em Sta. Helena, aproveitei da ocasião e lá fiquei.
A colonia era muito pobre; os camponeses, na sua maioria, não tinham ainda pago as suas propriedades, e a vida foi para mim difícil, pois os pais pouco podiam dispender para o ensino escolar de seus filhos.
Os colonos provinham do Hunsrück, da Silésia, da Pomerania, da Dinamarca e da Suíça. Freqüentemente havia desentendimentos pelas diferentes nacionalidades. As aldeias localizavam-se em curtos intervalos num único caminho, de modo que as crianças podiam vir facilmente à escola. Esta era construída de bambus e coberta de ripas. Eu recebí mais ou menos 40 crianças para ensinar. A elas devia ensinar a contar, ler, escrever e a cantar. Como os pequenos eram talentosos e eu logo ví o progresso, interessei-me pela coisa e esforcei-me bastante. Assim passou cerca de um ano; um dia veio a mim um colono e fêz-me a sugestão de ser Pastor da aldeia."
(op.cit. 180)

Hans von Hattorf Amerikanisches Leben

 

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