Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 13 (1991: 5)


 

Literatura

 

La Musica in Portogallo

Paolo Scarnecchia La Musica in PortogalloLa musica in Portogallo. A cura di Paolo Scarnecchia. Europa Musicale: Collana sulla organizzazione musicale nei paesi europei a cura di Marcello Ruggieri. Roma: Comitato Nazionale Italiano di Musica/CIDIM 1988 (1a.ed. 1986). 153 pp., tabelas, mapas.
Conteúdo: 1) Eventos: A música portuguesa: um perfil; A educação e a instrução musical; A musicologia e os bens musicais; A Dança (por José Sasportes); 2) Intervenções: A ópera como estetização da política e da propaganda do Estado (por Mário Vieira de Carvalho); Colóquio com Fernando Lopes Graça; 3) Textos e Documentos: A organização do Estado; Instituições e Associações; Complexos Musicais e de Dança; O Mercado do Espetáculo (por Marcello Ruggieri); A educação e a Instrução Musical; As relações de Trabalho (por Marcello Ruggieri); Bibliografia e Discografia; Endereços.

O Comitê Nacional Italiano de Música, membro do Conselho Internacional de Música/UNESCO , republicou, em 1988, na sua série Europa Musical, o volume dedicado à Portugal e editado em 1986. O organizador deste livro, Paolo Scarnecchia, esclarece na abertura o significado da música portuguesa para a Itália: "As relações entre a música portuguesa e a italiana foram tão intensas por três séculos que parece impensável uma reconstrução das transformações musicais lusitanas do passado sem considerar-se a influência exercita pela arte do nosso país na ponta mais ocidental da Europa. Todavia, conhecemos hoje muito do panorama musical original, variado, florido deste recém-chegado na família européia."

O Perfil Musical da Música Portuguesa abre com uma consideração sobre as origens da "musica erudita", um termo inadequado para considerações sobre a Idade Média portuguesa. A primeira frase do livro observa que se pode fazer coincidir as origens da música portuguesa com os ritos religiosos praticados no território ocidental da Península Ibérica. Infelizmente, o autor não entra em considerações a respeito, passando a oferecer um resumo suscinto de dados históricos. A seguir, trata da música polifônica, iniciando as suas considerações com a frase: "A música polifonica começou a difundir-se no século XVI", confundindo, assim, um estado de conhecimento determinado pela situação atual da pesquisa com uma realidade histórica já confirmada documentalmente. O ponto seguinte, dedicado à música profana, inicia com considerações sobre Gil Vicente e entra em considerações sobre a disputa teórica entre Vicente Lusitano e Nicola Vicentino; não se considera a questão que seria fundamental do relacionamento da música profana com a integralidade da cultura medieval, onde as esferas do sacro e do profano constituiam uma unidade. Os pontos seguintes são dedicados respectivamente à "música instrumental", ao "nascimento do teatro musical", ao "Teatro São Carlos", à "voga operística no Oitocentos," à "afirmação da música instrumental: J.D.Bomtempo", a "os compositores do Novecentos ao Teatro S. Carlos nos últimos anos", à "Fundação Gulbenkian" e à "nova música". Como os títulos desses pontos indicam, o capítulo dedicado à "música erudita" na parte destinada a "Eventi" (!) ressente-se de uma organização interna coerente e de um tratamento cientificamente adequado pela insuficiente consideração do contexto religioso que determinou grande parte da história da música portuguesa.

A seguir, o autor trata da Musica Folclórica e Tradicional, uma das partes mais superficiais da obra. A insegurança conceitual, manifestada no título, confirma-se no breve texto e nas considerações do capítulo a seguir, dedicadas à música popular. Aqui, o autor diz: "utilizando uma distinção comum no Brasil e freqüentemente aceita também em Portugal, separamos o folclore e a música tradicional, que não tiveram acesso aos meios de difusão da indústria cultural (...) da música popular." Sem considerar que tal distinção não é só própria do Brasil e que deve ser vista dentro de determinadas correntes do pensamento científico específico, o autor passa a tratar do Fascismo em Portugal e a fazer reflexões subjetivas sobre o Fado. Não tanto a consideração da História da Política Musical caracteriza o texto, mas sim a politização do seu conteúdo. Dando continuidade ao uso irrefletido de conceitos, o autor passa a tratar da música amadora: as formações bandísticas, corais e instrumentais.

 I rapporti tra musica portoghese e italiana sono stati talmente intensi per oltre tre secoli che appare impensabile una ricostruzione delle vicende musicali lusitane del passato che non tenga conto dell'influenza esercitata dall'arte del nostro paese nel lembo più occidentale d'Europa. Eppure oggi conosciamo talmente poco del panorama musicale originale, variegato, florido, di questo nuovo arrivato nella famiglia europea.

Paolo Scarnecchia

Mais objetivos e úteis são os textos publicados sob o título geral de Educação e Instrução Musical e que tratam da Educação Musical na escola primária, da Instrução Superior nos Conservatórios de Lisboa, Madeira e Ponta Delgada, do Instituto de Estudos Gregorianos, das Ciências Musicais na Universidade e das Escolas Populares de Música. Tanto o tratamento do Instituto de Estudos Gregorianos quanto o dedicado às Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa ressentem-se da não consideração específica de duas personalidades ligadas fundamentalmente com essas instituições, a saber, a Profa.Dra. Júlia d'Almendra e a Profa.Dra. Maria Augusta Alves Barbosa. Também insuficientes são os relatos dedicados à Musicologia Erudita (sic!) e à Etnomusicologia.

Sob Bens Musicais são considerados brevemente os Arquivos e Bibliotecas, o Museu de Instrumentos Musicais de Lisboa e o Museu Etnológico de Lisboa. O texto relativo à dança em Portugal é de um especialista no assunto, José Sasportes, embora as considerações sobre o passado mais remoto sejam superficiais e as relativas ao presente nem sempre objetivas. Importante pêso nessa publicação é concedido às reflexões políticas de Mário Vieira de Carvalho referentes à ópera e à cultura musical como veículos da Propaganda do Estado.

A segunda metade da publicação (a partir da página 75) é sem dúvida a mais valiosa, útil e a razão de ser de um empreendimento deste tipo. Trata-se de um conjunto de textos e documentos relativos a instituições portuguesas estatais e particulares. A lista de endereços de organismos oficiais institucionais e associativos, assim como de escolas de música e dança, de companhias de dança, de festivais e de casas editoras é sem dúvida a principal razão pela qual se deve dar os cumprimentos ao Comitê Nacional Italiano de Música por esta publicação visualmente tão bem apresentada.

 

Eurico Nogueira França: A arte da música através dos tempos

Eurico Nogueira França, A arte da música através dos tempos: ensaios histórico-críticos sobre a núsica no Ocidente. Rio de Janeiro: Atheneu-Cultura, 1990. 243 pp., índice onomástico.
Conteúdo: Introdução: A desculturalização do país (intróito autobiográfico); 1) Os mortos recentes: Herbert von Karajan aos 80 anos; Chopin por Horowitz; No Parnaso do piano; 2) Música através dos tempos: No decurso dos tempos; Música renascentista e barroca: Cláudio Monteverdi; Considerações sobre Bach e Telemann; A execução vocal nas árias de Haendel; 3) Música clássica: O bicentenário de Mozart; 4) Beethoven e o Romantismo: Beethoven e os ideais de liberdade; Beethoven por Kleiber; Schubert; Mendelssohn-Bartholdy; Brahms; De Mozart a Wagner; Schumann e o belo musical; Influências de Liszt sobre Wagner; Berlioz; 5) Música impressionista: Setenta anos depois de Debussy; Ravel no bicentenário da Revolução Francesa; Manet e Milhaud; 6) Música Moderna e de Vanguarda: Prokofiev e a censura soviética; Manuel de Falla e o nacionalismo essencial; Correntes vanguardistas; A música eletrônica de Stockhausen; 7) Música Brasileira através dos tempos: Traços gerais da história da composição musical-tendência nativista; O padre-mestre do Brasil-Colônia; Carlos Gomes; Cem anos da criação musical na República; Chiquinha Gonzaga; Villa-Lobos - Síntese crítica e biográfica; Camargo Guarnieri; Francisco Mignone; Marlos Nobre e a música brasileira; 8) Flashes Musicais (Impressões instantâneas do crítico): Magdalena Tagliaferro; Debussy por Gieseking; Otelo no Municipal, Maria Lúcia Godoy; Despedida de Menuhin.

A respeito deste livro, na sua contra-capa, Marlos Nobre se expressa com as seguintes frases: "No atual marasmo de publicações sobre Música no Brasil, este livro desponta como um marco (...). Com uma escritura cintilante, saborosa, o lemos de um só jato e guardamos para reler e degustar. Obra-prima estruturada em 'cadernos musicais' através de narrativa primorosa, festeja a Música, transmitido alegrias e informações musicais."

No seu "intróito autobiográfico", o autor - cujo nome na verdade dispensa apresentações no Brasil - descreve-se como crítico profissional de música que já exerceu o seu trabalho há muitas décadas. Tendo realizado estudos em Medicina e em Música, foi convidado, em 1936, para escrever um artigo para o número comemorativo do Centenário de Carlos Gomes da Revista Brasileira de Música. Tendo feito o curso de Canto Orfeônico na Universidade do Distrito Federal, passou a ser crítico do jornal o Correio da Manhã, a partir de 1944. O autor expõe dados auto-biográficos para justificar com o seu exemplo pessoal a necessidade da crítica no Brasil: "Quando se repete que o crítico é um artista frustrado, cabe considerar que a crítica é exatamente a arte do crítico, que pode exercê-la bem ou mal (pág. XIII)." O autor oferece dados de interesse para a História da Crítica Musical no Brasil, como por ex. a sua discussão com Otto Maria Carpeaux, segundo o qual a música do Ocidente nada teria a ver com a música grega. O autor salienta que formou-se no Brasil "com os elementos culturais que o meio poderia oferecer," mas que realizou uma série de rápidas viagens aos Estados Unidos e à Europa que lhe foram decisivas na carreira de crítico. Com a sua experiência de vida, chega à conclusão que o Brasil está sofrendo "um nítido processo de desculturalização:" "À medida que passa o tempo, nos últimos decênios, mais nos desculturalizamos, perdemos a marca ainda tênue no terreno da música, para nos abastardarmos de maneira incompatível com desígnios indispensáveis à própria nacionalidade." (pág. XVIII)

O autor define o conceito "desculturalização" do seguinte modo: "A desculturalização - que nada tem a ver com a existência ou não da música nacionalista - se exprime pela extinção, operada por nossos meios de comunicação que suprimem toda a música que não for popular, e entre a música popular elegem, muitas vezes, a mais reles, que a mídia eletrônica crê que está ao nível da mentalidade das massas (XVIII)." O objetivo do livro consiste ao mesmo tempo numa declaração pessoal e num brado de guerra: "A questão é de índole educacional (...). A função deste livro é, no plano teórico, tentar colocar as coisas em seus lugares, mesmo porque o autor, brasileiro, não compactua com a ignorância e o analfabetismo musical. Abaixo o processo de desculturalização do país! "(XVIII) A publicação é uma coletânea de ensaios publicados em O Estado de São Paulo. Cumpre salientar o artigo sobre Marlos Nobre, considerado como a "principal figura da música brasileira do final do século XX "(pág. 197). Espera-se que o autor, numa próxima publicação, possa desenvolver teoricamente os conceitos expostos no seu "intróito".

 

Die Musikforschung

Die Musikforschung, ed. pela Gesellschaft für Musikforschung, redatores W. Steinbeck e H. Loos, Ano 44/1-2 (janeiro-março; abril-junho de 1991).

Os dois primeiros cadernos do volume do corrente ano incluem os seguintes trabalhos (com títulos em tradução):
E. Pöhlmann (Erlangen), A transmissão da música no Mundo Antigo; 1-9. O autor parte da premissa que a transmissão de Poesia e Música não depende unicamente da documentação escrita. Na sua investigação, baseia-se nos aportes teóricos da pesquisa da poesia oral expressos em J. Latacz, Tradição e Renovação, Darmstadt 1979.

F. Krummacher (Kiel), As primeiras cantatas de Bach no contexto da tradição, 9-32. Este artigo, uma versão modificada de conferência pronunciada no Colóquio "A posição histórica de J.S.Bach", realizado em Leipzig, em 1987, trata da história do redescobrimento das obras de Bach desde o século XIX e da posição das cantatas no contexto da tradição existente à época da composição. Elas seguiriam primordialmente a tradição centro-alemã de 1700, denotariam porém em alguns traços o conhecimento da música expressiva de organistas do Norte da Alemanha. O interesse do Romantismo por essas obras poderia ser explicado pela expressividade recebida através dessa influência.

P. Hoffmann (Berlim), "A barata procura o caminho da luz" Do Quarteto de Cordas op. 1 de György Kurtág, 32-48. O compositor húngaro Kurtág torna-se cada vez mais conhecido, embora as suas obras sejam enigmáticas pela quantidade de idéias apresentadas. A música coloca aquí questões existenciais e coloca a sua própria existência em questão. A análise musical tem o objetivo de evidenciar o sentido da obra e comprovar tal interpretação.

B. Shamgar (Ramat Gan, Israel), "3 Peças para Piano" e "Allegro" em lá menor de Schubert. Duas peças pouco consideradas de 1828, 49-56. As composições de Schubert do ano de 1828 ocupam importante lugar na sua obra. Elas possuem qualidades de obras tardias de grandes compositores.

Relatos: Münster, 29 a 30 de junho de 1989: O Herói de Ópera e a Heroina no século XVIII- Perspectivas da Pesquisa de Libretto; Magdeburg, 14 a 16 de março de 1990: Conferência Internacional "Obras de encomenda e de ocasião de Telemann - Função, Valor e Significado; Duisburg, 22 a 25 de março de 1990: Simpósio Internacional Kurt-Weil.

J. Liebscher (Munique), "Introdução e Exposição na Ópera: uma investigação dramatúrgico-musical no exemplo do Otelo (1816) de Gioacchino Rossini", 105-129. O relacionamento complexo entre a introdução musical e a exposição dramática de uma ópera demonstra como, na abertura de uma obra cênica, interagem o procedimento composicional com o librettistico. Ao contrário do Finale, a Introdução, seja o primeiro número vocal, seja o primeiro complexo cênico, foi até hoje pouco estudada.

K. G. Werner (Cloppenburg), Verdi a caminho de sua obra tardia: duas aberturas entre música instrumental e ópera, 130-155. La Forza del destino, apresentada em 1862 em S. Petersburg, foi reelaborada para a encenação em Milão, em 1869, e completada com uma nova Abertura. No fim de 1871, Verdi aumentou a introdução da Aida, transformando-a numa "Sinfonia". Ela não chegou a ser apresentada no Cairo, mas possivelmente na Premiere européia em 1872.

Contribuições menores: E. Möller, Três Pareceres não publicados de Niels W. Gade, Felix Mendelssohn Bartholdy e Robert Schumann sobre Robert Franz, 156-157.

Relatos. Ljubljana, de 3 a 5 de abril de 1990: Simpósio Científico dos Encontros Eslovenos N°5; Budapest, 22 a 26 de abril de 1990: Perspectivas da Etnomusicologia: Tarefas e Objetivos na Hungria e na Alemanha Ocidental; Viena, 4 a 5 de maio de 1990: 5°Simpósio da Fundação Herbert-von-Karajan; Leningrado, 22 a 26 de maio de 1990: Simpósio "Cultura Musical na Alemanha"; Viena, 5 a 12 de junho de 1990: Som e Compositor: Um Simpósio dos Wiener Philharmoniker.

 

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