Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

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N° 13 (1991: 5)


 

Da Conceituação do Classicismo no Brasil I

"Linguagem musical universal" e o Brasil

Antonio Alexandre Bispo

 

Quando na bibliografia especializada se trata da questão da "universalidade" do Classicismo não no que diz respeito à sua difusão, mas sim como "linguagem musical universal", então precisa-se salientar de início, em defesa da literatura histórico-musical, que não se entende sob tal expressão, obviamente, a existência de um fenômeno "universal" no sentido estrito do termo. Neste contexto não cabe, por outro lado, uma necessária crítica da discussão de tendências a-históricas e não pobre de reflexões esdrúxulas levada a efeito em determinados círculos etnomusicológicos a respeito dos "universais". (Veja, por exemplo Mantle Hood, "Universal attributes of music", The World of Music 19/1,2, 1977, 63-69,66)

A consideração do tema "linguagem universal" deve sobretudo permanecer dentro de um contexto cultural historicamente fundamentado. Aquí, porém, trata-se mais do que uma "langue universelle de notre continent" (frase de Chabanon- De la musique, 1785, cit. in Friedrich Blume, "Klassik", Die Musik in Geschichte und Gegenwart 7, 1043), aproximando-se antes da famosa frase de Haydn, "a minha língua é compreendida em todo o mundo" (veja, neste contexto, Franzpeter Goebels, "Meine Sprache versteht man durch die ganze Welt: Bemerkungen zu den Variationen f-moll von Joseph Haydn", in Musik und Bildung 14/73/5, 1982, 338-340 e 349-350), desde que sob "mundo" não se compreenda toda a Terra, mas sim uma considerável parte do mundo com formação cultural ocidental.

No contexto da discussão a respeito da expressão "uma linguagem musical universal" tem-se levantado a questão da Popularidade e do Caráter Popular do Classicismo, conceitos de particular importância para a reflexão musicológica no Brasil, como a citada frase de M. de Andrade o demonstra. Sob "Popularidade" entendia-se, entre 1790 e 1830: "Fácil compreensão, tradicionalidade, o mínimo possível de exigências técnicas, porém um nível composicional alto, acatador das regras usuais e, imanente a todos esses aspectos, o ato de compor dirigido à grande quantidade de amadores e diletantes...". (Ludwig Finscher, "Popularität und Volkstümlichkeit in der Kammermusik der Wiener Klassik", in Volks-und Hochkunst in Dichtung und Musik: Tagungsbericht eines Colloquiums; Saarbrücken 19-22 de setembro de 1986, 28-40, 30)

São exatamente essas as características de grande parte da música já revelada da Europa meridional e das regiões extra-européias da época. Trata-se sobretudo de produções de numerosos mestres-de-capela de igrejas e irmandades que compunham para as necessidades da prática, sem contudo perderem a aspiração a um alto nível espiritual e artístico. São porém precisamente essas características de uma "música de uso" no melhor sentido da palavra que impedem no presente uma avaliação artística adequada da música dessa época de várias regiões do mundo.

A questão da Popularidade e do Caráter Popular, implícita no tema "universalidade" do Classicismo, leva portanto a reflexão a um terreno propício não apenas para a reavaliação da criação musical de mestres menores, de compositores esquecidos da Europa, o que ocorre no presente cada vez mais intensamente, como também para a melhor compreensão da história da música em regiões extra-européias. O conceito já citado de "tradicionalidade" indica que a "facilidade de compreensão" da música dessa época incluía uma estreita vinculação entre a atividade artística "erudita" e a música popular. Aquí abrem-se portanto possibilidades para considerações mais profundas de interesse para várias esferas do estudo da cultura musical.

O relacionamento entre a música artística e a popular na época já foi estudado sob vários aspectos, pelo menos no que diz respeito aos Clássicos Vienenses. "Walter Wiora demonstrou, no seu livro Música Folclórica Européia e Música Erudita Ocidental que o elemento músico-popular na obra e no desenvolvimento desses mestres supera de muito o nível de mero 'traço folclorístico' e representa uma 'camada básica essencial'".(Christoph-Hellmut Mahling, "Verwendung und Darstellung von Volksmusikinstrumenten in Werken von Haydn bis Schubert", in Volks-und Hochkunst in Dichtung und Musik, op.cit. 110-119, 110).

Não o aparecimento mais evidente de elementos folclórico-musicais seria no caso característico para os clássicos, mas sim "uma atitude modificada com relação a eles; não se trata tanto de grandes empréstimos à música da terra, mas sim esta é que se torna a raiz fundamental da obra de arte." (Alfred Orel, "Österreichs Sendung in der abendländischen Musik", in Bericht über den Neunten Internationalen Kongress- Internationale Gesellschaft für Musikwissenschaft - 2, Salzburg 1969; Kassel 1966, 7-19, 14).

 

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