Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 11 (1991: 3)


 

DA SITUAÇÃO ATUAL DA PRÁTICA E DO ESTUDO DE TRADIÇÕES ALAGOANAS

Antonio Alexandre Bispo

(Excertos)

 

O Departamento de Assuntos Culturais - SENEC, em convênio com o Departamento de Assuntos Culturais do MEC, publicou, em 1975, o trabalho Sobrevivência da Lúdica Folclórica em Alagoas, de Pedro Teixeira de Vasconcelos e José Maria Tenório Rocha. O levantamento segue classificação de Théo Brandão, com acréscimos e adaptações:
Reisados = 01. Reisado; 02. Bumba-meu-boi; 03. Caboclinhos; 04. Guerreiro; Cheganças = 05. Chegança (Chegança de Mouros); 06. Fandango (Chegança de Marujos); Pastoris = 07. Presépio (Pastoril Dramático); 08. Pastoril (de Jornadas soltas); Danças Cortejos = 09. Maracatus - 9.1 Cambindas - 9.2 Nega da Costa; 10. Taieras; 11. Baianas; 12. Caboclinhos; 13. Quilombos; Torneios = 14. Cavalhadas - 14.1 Pega de boi - 14.2 Vaquejadas; Cantos Puros = 15. Cantoria de Viola; 16. Emboladas; Cantos de Trabalho = 17. Aboio; 18. Canto das Trabalhadoras de Fumo; Canto Sagrado; 19. Incelença; Danças Sagradas = 20. Dança de São Gonçalo; 21. Toré; Danças Profanas = 22. Coco; 23. Porongo; 24. Dança do Parafuso; 25. Samba; Música Instrumental = 26. Zabumba; Outras Formas = 27. Manoel do Rosário.

De particular interesse musicológico são os dados oferecidos sobre violeiros e as considerações a respeito do Aboio, do Canto das Trabalhadeiras de Fumo (Arapiraca), da Dança de São Gonçalo (Água Branca) e do Toré (Porto Real do Colégio, Palmeira dos Indios).

Na introdução, os autores explicam a razão da necessidade de uma atualização do levantamento dos folguedos populares realizado por Théo Brandão há mais de vinte anos. O principal deles seria a extinção de muitos folguedos, determinada pela falta de meios financeiros:

"(...) após entrevistarmos quase todos os mestres e organizadores, chegamos à triste conclusão de que talvez no próximo ano, est levantamento esteja sofrendo diminuição considerável, em virtude da flata de dinheiro para a compra do material necessário (...)."

Como remédio, os autores sugerem o fomento do turismo:

"(...) havendo esta promoção, aparecerão pessoas que estudem, divulguem e reconstituam todo o potencial que desapareceu ou está prestes a se extinguir devido ao abandono daqueles que devem estimular e preservar um patrimônio conseguido há muito, pelos nossos ancestrais."

Moreno Brandao Vade-Mecum AlagoasA idéia do fomento turístico de Alagoas não é recente, pois já em 1937 o Instituto Histórico de Alagoas publicava o Vade-Mecuum do Turista em Alagoas, de Moreno Brandão. Hoje, porém, essa sugestão dos autores do levantamento desperta dúvidas pela sua superficialidade: sendo inúmeras tradições integradas em contexto religioso, razão e sentido de sua existência, o fomento turístico só poderá contribuir para a perda de sua razão de ser ou para a sua secularização e consequentemente para o estabelecimento de um "folclore" de cunho superficial:

"O que vemos hoje? Com o surgimento da indústria do Turismo, a quase total deculturação dos grupos (...) . Tudo isso por conta de uma apresentação simpática, imposta pela indústria do Turismo. // E a sua historicidade? E a razão de ser dessa expressão de valor cultura? Sofre essa agressão, descaracterizando-a." (Ernani Méro in Boletim Alagoano de Folclore XXX-XXXIII/11, 1987, 104)

Um dos autores do levantamento, doze anos depois, faz um balanço do Folclore (J. M. Tenório Rocha, "O Folclore em Balanço", Boletim Alagoano de Folclore XXX-XXXIII/11, 1987, 147-151):

Após ter percorrido numerosos municípios em Alagoas e Sergipe, teria ficado "perplexo com a constatação de que a indústria quase que invadiu tudo, e que, dos folguedos populares autênticos, existem alguns poucos sobreviventes para contar a história de como tudo sucumbiu (...) e, sobretudo, porque os mestres autênticos chegaram à conclusão de que o folguedo e a dança não mais dizem respeito a eles ou a outros."

A partir dessa constatação, o autor, presidente da Comissão Alagoana de Folclore, diretor de pesquisa da Secretaria de Cultura e membro do Conselho Estadual de Cultura, resolveu fazer colocações sobre aquilo que entende por folclore (a publicação inclui também trabalho apresentado no Seminário "Música Folclórica e Música Popular" realizado em Maceió, em 1986, de J. Ramos Tinhorão, que abre o seu estudo com conceituações de Édison Carneiro).

Cerne de seu pensamente parece exprimir-se no título de uma das partes do artigo: "A ideologia de dominação: Maquinação branca". O seu entusiasmo se dirige ao que chama de revanche dos portadores de folclore em forma de palavrões e frases de duplo sentido, simpatizando sobretudo com o "pastoril profano de prostitutas" como "o local ideal para o aparecimento total desse ir de encontro ao estabelecido". Esse artigo, se indicativo da situação atual dos estudos folclóricos alagoanos, manifesta a necessidade urgente de reflexões mais aprofundadas a respeito dos paradigmas de pensamento na área.

Breve citação deve ser feita à sinceridade - e ingenuidade - do livro de Pedro Teixeira, Folclore, Dança, Música e Torneio (Maceió, 1978). O autor trata, entre outros pontos, do "Rojão" como "rítmo musical das Alagoas". A sua definição é:

"Dá-se o nome de rojão a uma espécie de canto com modulações próprias, cheio de altos e baixos, terminando sempre por uma nota reticencial, monotônica, quase interminável, morrente." (pág. 54). Vale aqui a própria advertência do autor: "(...) quem tem uma bagabem literária bem acentuada, escreve com muita perfeição e equilíbrio, com conhecimento profundo da matéria, porém quem é fraco de dotes intelectuais só pode fazer o que eu fiz e isto mesmo com bastante esforço e trabalho." (pág. 14)

De título que sugere um interese musicológico é a publicação do jornalista Lindalvo Lins, Tambores em Ponta Grossa (Maceió, 1966). Esse livro procede de forma que não pode ser considerada como científica no estudo do tema, apesar de ter sido incluído na série "Estudos Alagoanos" do Departamento Estadual de Cultura (Caderno XXX).

(...)

 

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