Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

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N° 10 (1991: 2)


 

D. PEDRO II EM VISITA AO SÃO FRANCISCO: VIAGEM À CACHOEIRA DE PAULO AFFONSO

Antonio Alexandre Bispo

(Excerto)

 

A excepcional importância da viagem do imperador (1859) à região do Baixo São Francisco foi reconhecida no compêdio de Geografia e História de Alagoas (1871), de Tomau Espindola, como salienta Medeiros Neto (op.cit. 191):

"No percurso desta viagem, que antes foi a melhor expedição pelo São Francisco, o grande Imperador do Brasil procurou entrar em contacto com as povoações ribeirinhas (...)."

Foi recebido festivamente em Neópolis (Vila-Nova), de onde contemplou o panorama de Penedo, "que se rasgava defronte, como se fora um burgo do Reno" (op. cit. 192). Saindo de Penedo, "o primeiro porto alcançado foi Propriá, onde o venerando monarca (...) não se cansou de contemplar esta pequena Coimbra do São Francisco. O aspecto desta cidade retrata o quadro panorâmico daquela urbe lusitana." (loc.cit.)

Visitou Porto Real do Colégio, Porto da Folha (Traipú), Gararú, Pão de Açúcar. Entre os frutos principais dessa viagem, os contemporâneos consideram: o interesse imperial manifestado na ordem de construção da via-férrea de Piranhas a Jatobá, como ligação dos cursos médio e baixo do São Francisco, a expansão da navegação desse rio e o incentivo às viagens de explorações.

Como parte das comemorações do Sesquicentenário do nascimento de D. Pedro II, o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas publicou o livro Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas: A viagem realizada ao Penedo e outras cidades sanfranciscanas, à Cachoeira de Paulo Afonso, Abelardo Duarte Dom Pedro II nas AlagoasMaceió, zona lacustre e região norte da Província (1859/1860), de autoria do historiador Abelardo Duarte (Maceió, 1975).

No seu diário de viagem ao São Francisco, D. Pedro II registra a chegada em Piaçabuçu, onde foi à pequena capela:

"Receberam-me com laços de diversas cores atados em varas e uma música de rebecas e outros instrumentos vida de Penedo. Piaçabuçu que, ainda há pouco, foi criada freguezia, tem bastante casas, porém a maior parte de pau a pique e cobertas de sapé." (op.cit., pág. 40)

Com respeito a Penedo, o imperador fêz um registro que, apesar de ligeiramente negativo, denota a importância dada à música sacra na cidade e o cultivo do Canto Gregoriano:

"O pregador franciscano massou-nos tendo aliás escolhido tema adequado, etc. Também a música muito longa alternando com o cantochão dos padres arranhou-nos os ouvidos; creio que era a mesma de Piaçabuçu." (op.cit., pág. 42)

A expressão "arranhar os ouvidos" parece ser compreensível, considerando-se as irregularidades encontradas nas partes instrumentais da época, como no exemplo da obra "Anna parens" de Manoel Nunes de Barros Leite. Na recepção musical de sua chegada salientaram-se as bandas da Guarda Nacional e da Polícia de Maceió, vindas especificamente da capital e que teriam executado "sofrivelmente" (pág.43). Também na povoação de Pão de Açúcar o Imperador registra a execução do Hino da Independência por um conjunto de "rabecas e outros instrumentos", cantado pelos presentes; o hino foi repetido na Casa da Câmara (pág. 47). Enquanto D. Pedro viajava a Cachoeira, desenvolveu-se um programa cultural em Penedo, onde permaneceu grande parte da oficialidade dos navios (op.cit. pág. 61); após um jantar oferecido pelo comando do vapor "Gonçalves Martins" aos oficiais do "Apa", realizou-se um sarau dançante no salão do vapor, onde ao som do piano executaram-se quadrilhas, valsas e schottischs (op.cit., pág. 61). No retorno do Imperador, houve apresentações de bandas de música em Penedo.

A.Duarte dedica todo um capítulo ao "Baile, a que não compareceu Dom Pedro II" (op.cit. págs. 69-72). Com a presença do Presidente Souza Dantes, a orquestra deu início à primeira quadrilha às 21:45 horas; o baile terminou com o Hino Nacional, sob aclamações ao Imperador e ao Presidente da Província (pág. 71).

A segunda parte da obra de A. Duarte é dedicada à viagem realizada, em companhia da imperatriz, a Maceió, zona lacustre e região norte da Província. O autor dedica um capítulo à "Música e Poesia - o Baile" (op.cit., 129-132). Neste capítulo, indica a existência, no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, do original - letra e música - de um hino oferecido a Dom Pedro II por Ildefonso de Paula Mesquita Cerqueira, autor da letra, posta em música pelo "seu muitíssimo amigo e patrício" Joaquim Antônio de Almeida Crispim. Esse hino teria sido cantado pelo estudante Clarêncio Lucindo da Silva Jucá, acompanhado pela Banda Marcial do Corpo de Polícia. A partitura traz a data de 8 de dezembro de 1859. O compositor, J.A. A. Crispim, morador do bairro de Bebedouro, teria obras que podem ser encontradas ainda hoje em acervos de bandas de música em Alagoas e Sergipe:

"De prazer mil raios chovem/ Nos peitos Alagoanos/ por verem Pedro e Teresa / Modelos de soberanos // (Estribilho) Vezes mil Monarca excelso / De nobre estirpe oriundo / Repetiram nossas plagas / Viva Dom Pedro Segundo // Os plumosos amadores / Trinando novas canções / Dizem que a Paz venturosa / Causa inveja às mais nações // (Estr.) /7 Flora seu trono reveste / De mil graças e fulgores / Thetis brincando c‘o as ondas / Canta de Pedro os primores. // (Estr.)

 

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