Antonio Alexandre Bispo

Fundada em 1685 por Jesuítas de Quito sob a invocação de Santo Inácio de Loyola, a Missão dos Pehuas passou a chamar-se simplificadamente Pevas. Desde 1750 encontrava-se situada na localidade visitada por Paul Marcoy. Em 1778, os neófitos haviam assassinado o chefe da missão e se embrenhado na floresta, abandonando a aldeia. Fundou-se uma segunda povoação, cuja população constava de Pehuas e índios de outras nações (Catahuichi, Orejona, Yahua, Ticua e Yuri). Também essa aldeia foi abandonada, após 23 anos de existência. Novamente fundada por misssionários franciscanos ao redor de 1800, a nova população constituiu-se de descendentes de Pehuas, de Orejones, de Yahuas e de Ticunas.

	Orejones cristãos na Quebrada do Ambiacu

Paul Marcoy registrou a mistura de concepções religiosas na população local. Os habitantes consideravam como crenças do seu próprio sistema religioso conceitos recebidos durante a longa e difícil história da ação missionária na região, misturados com idéias de outras origens e crenças de brancos e mestiços. Tinham a idéia da Trindade, de um deus criador (Omasoronga), de um deus conservador (Iqueydema) e de um espírito de amor e inteligência (Puynayama). Consideravam que a alma ressuscitava em forma de um pássaro (Urubu-tinga) e haviam assimilado de tal forma o conceito bíblio da geração de Noé que falavam de "uma grande caixa" na história de seus antepassados. Esses conceitos diziam ter sua origem nos ensinamentos do antigo franciscano que havia atuado com sucesso na região, que teria sido querido mas que havia sido morto. A razão desse assassinato denota um fenômeno conhecido em várias regiões do mundo e de importância para a consideração do sincretismo. Trata-se da apropriação de concepções numa primeira fase da catequese em tal intensidade que passam a ser guardadas com os ciúmes de herança própria; havendo posteriormente um período de enfraquecimento do contacto com o agente missionário ou com outros portadores das novas concepções, as idéias apropriadas passam a ser vistas com absoluta convicção de autenticidade. Esse processo explica o necessário cuidado que se deve ter na consideração de expressões culturais aparentemente "originais". No caso, os Orejones cristianizados, para impedir que o franciscano propagasse entre os povos vizinhos os princípios da doutrina que agora viam como sua, e para guardá-la como monopólio de sua tribo, o teram matado, comido, e de seus ossos feito flautas para honrar a sua memória.