Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 06 (1990: 4)
Antonio Alexandre Bispo
O desenvolvimento operístico na capital paraense já foi alvo, em suas linhas gerais, de criteriosos estudos. No seu artigo "A música em Belém no século XIX" (Revista do Livro VI/23-24,1961, 121-141), Vicente Salles salienta o início da faase de grande atividade artística que se ligou à fundação da Associação Lírica Paraense e aos nomes de José Candido da Gama Malcher (1853-1921) e Tomás Passini, responsável pela vinda da Companhia Lírica Italiana com a soprano Líbia Drog e o Mtro. Enrico Bernardi (pág. 132). Em "A música e o tempo no Grão Pará" (Belém, 1980), Vicente Salles estuda a ópera no Teatro da Paz (págs. 304 ss.) e a atuação de Enrico Bernardi (págs. 369ss.) em pormenores.
Alguns colecionadores, por exemplo o Dr. Lima Guimarães, guardaram antigos libretos de ópera impressos em Belém e que representam, hoje, fontes de interesse para o estudo da vida musical do Pará nos fins do século XIX e início do XX, constituindo, em si, objetos dignos de futura análise musicológico-literária. Muitos desses libretos foram excelentemente impressos pela Typ. Encadernação de Pinto Barbosa & C. (Travessa 7 de setembro esquina da rua 13 de maio). Essa casa comercial colaborou para a difusão de obras do repertório operístico, pois enviava os seus libretos para divulgação em jornais (por exemplo para a "Folha do Norte"). A partir de 1900 passou também a vender músicas, como o demonstra um anúncio da época.
Aqui serão comentados brevemente apenas poucos libretos.
De 1895, ano de chegada de Carlos Gomes a Belém, tem-se o libreto do "Um Baile de Máscaras" de Verdi. Essa publicação traz uma bem cuidada versão do enrêdo em português e o nome dos artistas participantes: (Ricardo, conde de Warwich, governador de Boston) Snr. Iarici, Tenor; (Oscar, pagem do Conde) Sig. A. Bottero, Soprano lig.; (Renato, secretario do Conde) Snr. Archangeli, Baritono; (Amelia, esposa de Renato) Sig. Maria Mori Soprano abs., substituida por de Nunzio; (Ulrica, adivinha de raça negra) Sig. Z. Sartori, Contralto; (Samuel e Tom, inimigos do Conde) Snr. Nicollette e Snr. Scolari, Baixos.
De 1900, tem-se o libreto de "Manon Lescaut", de Puccini. Nessa ópera, cantaram em Belém os seguintes artistas: (Manon Lescaut) Sra. Tilde Maragliano, Soprano; (Lescaut, sargento da guarda real) Sr. G. Pagnoni, Baritono; (O cavalheiro Des Grieux), Sr. G. Agostini, Tenor; (Geronte de Ravoir, thesoureiro geral) Sr. U. Ceccarelli, Baixo brilh.; (Edmundo, estudante), Sra. Cerri Emma, Tenor; (O estalajadeiro), Sr. P. Sottini, Baixo; (Um músico) Sra. E. Ceriani, Meio sopr.; (O mestre de dança) Sr. V. Cortesi, Tenor; (O lampista) Sr. V. Cortesi, Tenor; (O sargento de archeiros) Sr. P. Sottini, Baixo; (Um commandante de navio) Sr. S. Pecci, Baixo; (Um cabelleireiro) N.N., Mimo.
De 1901, o libreto da ópera "Os Huguenotes" de Meyerbeer traz os seguintes nomes: (Margarida de Valois) Mabel Velma; (O Conde de Saint-Bris) M. Fiori; (Valentina) Zucchi Ferrigno; (O Conde de Nevers) F. Polimeni; (De Cossé) G. Drog; (Thoré) G. de Marco; (Thavannes) R. Lombardi; (Méru) A. Mori; (De Retz) V. Cortesi; (Raul de Nangy) M. Sigaldi; (Marcello) S. Di Giulio; (Urbano, pagem) M. Barbieri; (Maurevel) G. Drog; (Bois Rosi) G. de Marco; (Uma dama de honor) O. Caraciolo; (O chefe da ronda) A. Mori.
Do mesmo ano de 1901, tem-se o libreto da ópera "Fedora" de Umberto Giordano com os nomes dos seguintes artistas: (Princesa Fedora Ramazov) Sra. Elvira Miotti; (Condessa Olga Sukarev) Sra. Mabel Nelma; (Conde Loris Ipanov) Snr. Michele Sigaldi; (De Siriex, diplomata) Snr. F. Polimeni; (Dimitri, groom) Sra. Barbieri; (Desiré, creado) Snr. De Marco; (Barão Rouvel) Snr. Fiore; (Cirillo) Snr. Fiore; (Borov, médico) Snr. Drog; (Grech, oficial de polícia) Snr. Mori; (Lorek, cirurgião) Sra. Drog; (Nicola, lacaio) Snr. Ferraresi; (Sergio) Snr. Cortesi; (Michele, porteiro) Snr. Raspantini.
Talvez por não ser tão importante para o sucesso teatral a indicação do nome dos artistas, as companhias dramáticas traziam, pelo menos esporadicamente, os libretos já impreossos do Rio de Janeiro. Este é o caso, por exemplo, de "O casamento de Figaro" de Beaumarchais e "Nero" de Pedro Cossa, representados pela Companhia Dramática Italiana dirigida por João Emanuel/Manoel (Rio de Janeiro: Imprensa MontAlverne, Uruguayana 43, 1891).
Somente um levantamento sistemático dos nomes de artistas citados em libretos, artigos de jornais e programas permitirá a elaboração futura de trabalhos históricos sobre a a ópera italiana no mundo de língua portuguesa, ampliando-se assim a excelente obra de Mário Moreau, Cantores de ópera portugueses (Lisboa, I: 1981, II: 1987).