Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 04 (1990: 2)


 

Literatura

 

Coimbra/Portugal. Problemas museológicos: Instrumentos musicais em coleções etnológicas

Coleccoes etnologicas de origem ultramaricanEm publicação do Museu e Laboratório Antropológico da Universidade de Coimbra (Henrique Coutinho Gouveia, As colecções etnológicas de origem ultramarina no contexto de uma política do património cultural, 1983) apresentou-se as linhas orientadoras fundamentais para um projeto que deveria ser levado a efeito por todo o país e que não deixa de ter implicações de cunho musicológico (veja fotografia de trompa conguesa em marfim, apresentada na Exposição Insular e Colonial Portugueza, 1894 e vendida para a Bélgica).

Nesse trabalho, tecem-se considerações a propósito da falta de proteção a que tem sido votada a generalidade do patrimonio etnológico de origem extra-européia que existe em Portugal. O estudo é precedido pela evocação de alguns antecedentes históricos a respeito da coleta e arquivo de materiais etnológicos. Entre as causas que contribuiram para o aumento do patrimonio etnológico no país salienta-se a realização das exposições coloniais e de viagens científicas. Entre as instituições museológicas consideradas citam-se o Museu Antropológico da Universidade de Coimbra, o Museu Etnológico Português, o Museu Antropológico da Universidade do Porto, o Museu da Academia de Ciências de Lisboa, a que se reuniram os acervos do Museu Maynense e do Real Museu da Ajuda, o Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa e o Museu de Etnologia do Ultramar. Alguns acervos foram dados como perdidos, como o da "viagem philosophica" ao Brasil, de Alexandre Rodrigues Ferreira, que, atualmente, parece estar sendo progressivamento reencontrado.

"Por último, importa sublinhar que o desenvolvimento do intercâmbio cultural entre Portugal e os países lusófonos, que parece constituir hoje um dos factores mais relevantes no contexto de um movimento de aproximação (...), só poderá beneficiar com os resultados obtidos por essa actuação dinâmica, tendo por objectivo preservar e valorizar o espólio correspondente a este sector patrimonial" (pág.31). Uma eventual recuperação de instrumentos musicais africanos vendidos ao Exterior implicará cultos vultosos. Esse foi o caso da compra, pela Secretaria de Cultura, de trompas do século XV com armas de Portugal e a cruz militar da Ordem de Cristo vindas de Benin para o casamento de D. Manuel I e conservadas nos Estados Unidos (A Capital, 16 de fevereiro de 1981; Diário de Notícias, 14 de fevereiro de 1981). Essas trompas são de extraordinário valor para a História da Música da África e de Portugal, pois proval o altíssimo grau de influência cultural portuguesa na região da Costa da Mina e no Dahomey já em fins do século XV. Embora repleto de observações pertinentes, o trabalho museológico em questão peca por tendências de cunho extra-científico que tornam as proposições finais discutíveis.

(A.A.B.)


 

Achegas para o estudo comparativo da língua e da música do Alentejo e do Brasil

A Assembléia Distrital de Beja publicou, em 1985, em segunda edição, o livro "A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo" de Manuel Joaquim Delgado, sócio do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, sócio fundador da Sociedade de Língua Portuguesa e autor, entre outras obras, do Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo, 2 volumes (Lisboa, 2a. ed., 1980). Essa reedição do trabalho primeiramente publicado em 1951 justifica-se pelos acréscimos feitos pelo autor com base em pesquisas mais recentes. Entre a matéria inédita agora publicada encontra-se um estudo de investigação sobre o codialeto alentejano, em que o autor o compara com o falar algarvio, com o lisbonense, o conimbricense, o viseense, o portuense e, ainda, com a linguagem popular e culta do Brasil. O livro inclui também vários cânticos com música e letra do ciclo natalino (As Janeiras, A Desgarrada, O Menino, Os Reis, etc.). Essas melodias foram reproduzidas de trabalhos publicados por outros autores, especialmente pelo Pe. António Cartageno, um dos principais especialistas de canto alentejano e de quem se espera um estudo musicológico a respeito. A publicação oferece, portanto, também do ponto de vista musical, material para um estudo comparativo. A reedição desse livro em Beja ocorreu no mesmo ano da exposição "Música um Património a defender" realizada na Casa da Cultura local (1 a 14 de outubro de 1985). Essa exposição, preparada pelo Departamento de Musicologia do Instituto Português do Património Cultural sob a direção de Humberto d‘Avila, constou de obras impressas e manuscritas, documentação vária e instrumentos. Entre as obras expostas encontrava-se a partitura para canto e piano da Fosca de A. Carlos Gomes (Milano, G. Ricordi) com dedicatório ao Mtro. Alfredo Keil ("al mio giovane e simpatico collega", Lisboa 17 de junho de 1889), assim como um álbum artístico da soprano Idalina Fragata Leite Pinto (24 p., 27 cm, 1928-1934), com recortes de jornais, programas, entre eles o de um recital da mesma cantora no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (1951).

(A.A.B.)


 

Tasso Bangel Estilo Gaucho na Musica BrasileiraTasso Bangel. O estilo gaúcho na música brasileira

Coleção Luís Cosme, 21. Porto Alegre: Movimento, 1989. 64 pp., bibliografia, biografia do autor, exemplos musicais, ilustrações. Conteúdo: Apresentação (Barbosa Lessa); Introdução - Os estilos; Influências; As condições para formação do estilo gaúcho; Começa a nascer o estilo gaúcho; O estilo gaúcho se consolida; Análise do estilo gaúcho; Exemplos do estilo gaúcho: trova, bugio, rancheira, toada, chotes, milonga, valsa campeira, polca limpa-banco, vanerão, rasqueado; Entrevista com músicos.

Segundo o apresentador da obras, Barbosa Lessa, o presente estudo vem preencher lacuna na bibliografia referente à música do Rio Grande do Sul, que conta, entre outros, com um artigo do ano de 1945 de Paulo Viana Guedes na revista "Provincia de São Pedro", os estudos de Luís Cosme e as fundamentadas obras de Antonio Côrte-Real. O trabalho visa "a diferenciação da música gaúcha dentro de um contexto maior" (p.9) e suscitará discussões.

(A.A.B.)


 

Kilza Setti. "O sistema musical dos índios guarani de São Paulo"

Leitura, São Paulo, 7 de dezembro de 1988, 8-9.

Neste artigo de excepcional importância para os estudos de Antropologia da Música, a autora faz um resumo da comunicação apresentada em agosto de 1988 para as Quartas Jornadas Argentinas de Musicologia do Instituto Nacional de Musicologia Carlos Vega. O exame da documentação recolhidas pela musicóloga em aldeias de São Paulo e o cotejo desse material com o proveniente de aldeias do Sul e Sudeste levam-na a crer que os atuais grupos guarani sistematizam procedimentos vocais e instrumentais. Salientando o uso do violão nas cerimônias religiosas dos guaraní, discute aprofundadamente as possíveis origens dessa prática.

Recorde-se aqui que os instrumentos de cordas dedilhadas eram instrumentos de anjos e "viola" era o instrumento de David nos fins da Idade Média.

 


 

Armando Cortes-Rodrigues. Romanceiro Popular Açoriano

Armando Cortes-RodriguesCoordenação e Nota explicativa d J. Almeida Pavão. Prefácio e revisão de Pere Ferré. Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1987. 616 pp.
Conteúdo:
I) Romances marítimos; II) Romances novelescos; III) Romances de aventuras; IV) Romances históricos; V) Romances mouriscos; VI) Romances religiosos; VII) Xácaras; VIII) Romances incompletos.

Com a publicação desse Romanceiro, o Instituto Cultural de Ponta Delgada dá por encerrado o trabalho editorial de divulgação da obra etnográfica de Armando Cortes-Rodrigues. Enquanto a publicação do Cancioneiro Geral e do Adagiário Popular Açoriano pode basear-se em material já preparado para a edição, os materiais destinados ao presente volume ainda estavam em fase de organização. No seu detalhado prefácio, P. Ferré cita, entre as fontes utilizadas por A. Cortes-Rodrigues para esta "obra coletiva regional mas, no fundo, pan-hispânica" (pág. 37), a coletânea de Sílvio Romero, Cantos Populares do Brazil (Lisboa, 1883).

Segundo o prefaciador, a "obra incompleta de Côrtes-Rodrigues deverá ser prosseguida a fim de podermos contar com um "Romanceiro Geral do Arquipélago dos Açores" (pág.cit.)

(A.A.B.)

 

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